sábado, 29 de dezembro de 2012

Um desserviço ao jornalismo esportivo

          Meu Deus, o que será do meu futuro? Tenho um sonho de ser jornalista e, dentro desse sonho, tenho outro que é de ser jornalista esportivo. Mas a situação atual dessa fração da profissão me deixa profundamente triste, porém, motivado a mudar muitas coisas nesse meio.

          Antes de eu começar a me expressar, quero dizer que esse post é “a-clubista”. Sou são-paulino e sertanezino fanático e todos que me conhecem sabem que aceito as derrotas e comemoro muito as vitórias. Tiro sarro dos meus colegas e deixo tirarem de mim. Sabem, também, que procuro analisar e criticar os esportes, independentes de quais sejam, e analisar a posição da imprensa geral em relação a isso. Eu, como a maioria dos brasileiros, sou apaixonado e fissurado por futebol. Enfim, sem mais delongas, vamos à minha reflexão.

          O jornalismo esportivo da grande mídia foi totalmente um desserviço ao que pede a profissão. Comecemos pelas Olimpíadas em Londres 2012. Muito se debateu sobre os direitos de transmissão para as emissoras de televisão no Brasil.

          A Rede Record assumiu para a TV Aberta. Nos canais a cabo, Sportv, com quatro canais, e ESPN, com três, se desdobravam também para garantir a audiência da população. Nesse caso, vitória da ESPN. Derrota feia da Record, com jornalistas e comentaristas totalmente despreparados e ufanistas ao extremo.

          A Rede Globo, então, simplesmente ignorou a competição, a ponto de pouco noticiá-la em seus jornais. É fato que a Record disponibilizava um tempo estimado para cada emissora interessada na divulgação do evento. Cabia, então, a cada uma utilizá-lo da melhor forma.

          Passado o grande evento esportivo do ano, vamos ao futebol, o esporte que aflora os sentimentos do ser humano em todos os sentidos. Do choro ao riso, da alegria ao desespero.

Primeiro tópico – O primeiro estádio para a Copa ficou pronto e foi inaugurado no último domingo, 16 de dezembro. Muitos dos veículos de comunicação bairristas do Sudeste pouco se importaram com o estádio do Nordeste, apesar de ser o primeiro a ser inaugurado. O jornalista esportivo deve estar atento a tudo, quanto mais no que se trata ao evento central do país em 2014, a Copa do Mundo.

Segundo tópico – Seleção Brasileira de Futebol. A maioria dos comentaristas e jornalistas esportivos criticava as atitudes do técnico Mano Menezes. Foi só o treinador ser demitido que os comentários vieram: “Ah, agora ele estava acertando o time”; “O treinador que chegar agora não vai mudar muito o estilo.”. Poupe-me das trocas de opiniões. Já começou errado porque jornalista informa e não critica com sua opinião. Se estiver embasada em alguma coisa, tudo bem. Errou mais ainda ao mudar de ideia assim que a demissão foi anunciada.

Terceiro tópico – O futebol regional. Infelizmente, não se dá o valor necessário para os times do interior paulista, a não ser as emissoras locais, ainda assim, com uma certa desigualdade. Na região de Ribeirão Preto, fala-se muito, e quase sempre, de Botafogo e Comercial. Aí está o erro. A meu ver, deveria ser disponibilizado um espaço/tempo igual ou dias alternados para os outros clubes da região (além dos outros esportes também). O Botafogo está na primeira divisão do Paulistão. Comercial na A2. Sertãozinho, Batatais, Francana, Barretos na A3. Todos merecem reportagens e matérias de forma igualitária.

Quarto tópico – Crucial para a criação desse texto: o Corinthians na Libertadores e no Mundial de Clubes. Lembrando mais uma vez que essa reflexão é “a-clubista”. Até que ponto a cobertura da grande mídia, em especial Rede Globo e TV Bandeirantes, foram jornalísticas ao invés de marqueteira e “show” para o público brasileiro? Vamos ao assunto Libertadores da América. O alvinegro tinha toda uma mística sobre esse campeonato, por sucessivas participações e nenhuma conquista. Era alvo de chacotas dos rivais paulistas. Esse ano, porém, isso acabou. Venceu incontestavelmente de forma invicta a competição. A Rede Globo fez algo que nunca se viu antes. Simplesmente armou um circo para o espetáculo futebolístico. Os jornais só falavam em Corinthians, os programas normais só falavam em Corinthians. E os de esporte então? Só falavam de Corinthians.

          Nas fases semifinal e final, fizeram um Globo Esporte junto com SPTV pra falar de... Corinthians. Ignoraram a existência e as notícias dos outros clubes do Estado. Mesma coisa com a cobertura da TV Bandeirantes. Não tinha o direito de transmissão, mas armou um show com seus comentaristas corintianos e convidados relacionados ao time, como vários ex-jogadores. Isso é válido? Isso é jornalismo esportivo ou entretenimento?

          Fico com a segunda opção. Eles deveriam se lembrar de que não só torcedores do Corinthians assistem ao programa, mas torcedores dos outros clubes estão interessados em outros assuntos e notícias. O Corinthians venceu e continuou sendo a pauta principal até o mês de dezembro, com o Mundial de Clubes da FIFA.

          O Mundial com certeza é o ápice de todo o clube brasileiro. Porém, parecia que só o Corinthians tinha conseguido o feito de participar desse torneio. Dessa vez, mais do que na Libertadores, o Corinthians foi a pauta. Antes, tínhamos um refúgio na TV a cabo. Agora, nem isso. Salvo ESPN e Fox Sports que souberam dosar um pouco os temas.

          Fizeram de tudo. Programas especiais, chamadas para jogos especiais. Chorar em transmissões. Um show armado totalmente ridículo. Criaram termos como “Invasão corinthiana”, “Hospício no Japão”, “Algo como nunca se viu”, ao mostrar a festa da torcida do time no embarque para o Japão. Não lembraram (ou não quiseram lembrar) que outros times, ao irem para o Mundial, também fizeram algo igual.

          Além disso, havia manchetes como essa: “Corinthians pronto para vencer o Chelsea e calar os rivais”, noticiada no site do Globo Esporte. Matéria totalmente tendenciosa e clubista.

          No mesmo dia da estreia do time no mundial, dia 12/12, o São Paulo disputava a final da Copa Sulamericana. Pouco se falava disso durante o dia e o clube tricolor havia quebrado o recorde de público no ano, com 67 mil torcedores no Morumbi. O assunto principal eu não preciso nem dizer. Nesse mesmo dia, o já rebaixado Palmeiras estava com as negociações do jogador Marcos Assunção, um dos mais importantes do time, dificultadas por impasses entre empresários e diretoria. Pouco se falou. Um dia antes, dia 11, o goleiro Marcos, do próprio Palmeiras e da Seleção Brasileira, encerrava sua carreira em campo. Também pouco se falou.

          O Corinthians avançou à final do Mundial e o São Paulo foi campeão da Sulamericana. No dia seguinte, o assunto mais falado era o Corinthians. Lembraram do São Paulo também, ora, foi campeão invicto. Porém, o assunto mais focado foi a violência nos vestiários do Morumbi, e não o jogo e o título em si.

          Passado isso, o assunto principal continuou sendo o alvinegro. Já não havia mais pautas e mesmo assim inventavam o que falar. E os outros times e seus torcedores, coitados, esquecidos pela mídia. Salvo os jornais impressos e sites que trazem um espaço para todos.

          No dia 16 de dezembro, final do Mundial, o São Paulo completa 77 anos. Só vi uma reportagem na Record falando. Do resto, nenhum outro veículo noticiou. Apenas falaram do título, por sinal, merecido do Corinthians.

          Sem contar que, nos dias 12 e 13, fizeram aniversário os títulos Mundiais do São Paulo em 92 e 93, respectivamente, e pouco se falou, novamente, só na TV a cabo, com pouco espaço. Em 18 de dezembro, fez sete anos do tri do São Paulo no Japão. E chegou a delegação do Corinthians, também do Japão. Já dá pra imaginar como ficou a televisão, né? De novo, a mesma história do aeroporto, como se fosse algo inédito. Até que o site da ESPN faz uma matéria jornalística, e não de shownalística, sobre essa chegada. Compara com os números do São Paulo em 2005 e comprova que a festa não foi tão grande assim, como as outras empresas dizem. A reportagem traz fontes e números oficiais da prefeitura e estado de São Paulo.

          Falei tudo isso sem contar com o boato que criaram em 2005 de que o time tricolor estava rachado por causa da premiação do título antes do início do campeonato e da falsa negociação do atacante Amoroso, insinuando que ele não disputaria o Mundial.

          Agora, muitos falarão que isso é inveja e dor de cotovelo porque o Corinthians foi campeão. Pois digo que não é inveja, tão pouco dor de cotovelo. É indignação e tristeza por ver como está a situação atual do jornalismo esportivo do país. Vão pelo dinheiro, publicidade e massa, não mais por notícias, fontes e imparcialidade. Como diz a tese de Paulo Vinícius Coelho (PVC), comentarista e jornalista dos canais ESPN, em seu livro “Jornalismo Esportivo”, antes de um profissional ser jornalista esportivo, ele tem que ser jornalista.

Vinícius Alves de Souza
Estudante de Jornalismo em Ribeirão Preto/SP
Morador em Sertãozinho/SP

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