O caso do menino Joaquim, que desapareceu no dia 5 de novembro, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, não é novidade. O tema revirou as pautas de todos os jornais da cidade e até do país. Mesmo antes de o corpo do garoto ser encontrado, todos já “sabiam” que o garoto estava morto. Agora, ainda sem provas reais, todos “sabem” que o padrasto é o assassino. E quem fornece as informações que levam a tais julgamentos? Sim, a mídia. Sempre ela.
Aquela mesma que pode dar voz aos oprimidos, revelar esquemas de corrupção, transmitir as decisões políticas mais importantes e prever o futuro econômico do país. Os meios de comunicação, com seu imenso poder de nos dizer o que pensar, quais temas discutir na mesa do jantar ou em uma roda de amigos, neste caso, deixou todos os assuntos citados acima em um segundo plano para transmitir o “Caso Joaquim”.
Mas o que essa mudança tão drástica demonstra? Que a mídia se sensibilizou? Que crimes contra crianças ganham mais repercussão midiática? Ou que os meios de comunicação carregam, junto ao poder de pautar o que é, ou não, relevante na sociedade, o peso da submissão à audiência?
Basta acompanhar as tragédias de um ponto de vista um pouco mais crítico e menos comovido. Os veículos de comunicação deslocam suas equipes, adequam sua programação e colocam o caso na prioridade do dia durante semanas. Mesmo que não haja nada novo, é primordial não deixar que o fato caia no esquecimento. Até a próxima tragédia ou escândalo, claro.
Desta necessidade de manter acesa a curiosidade de quem consome a notícia, iniciam-se coberturas surreais. Incluindo refazer o trajeto que o cão da polícia farejou, entrar na casa da família – mesmo sem nenhuma autorização -, entrevistar familiares em outra cidade, procurar possíveis brigas, desvios de personalidade e vícios dos envolvidos. Enfim, tudo o que for possível associar ao caso. Mas qual a relevância de tais coberturas? Qual o interesse público destas informações?
O “Caso Joaquim” teve início na mesma semana em que a jovem Aiana, 25, morreu após cair da moto quando passava por um buraco em uma das principais avenidas de Ribeirão Preto. A mídia também abordou este caso, porém sem ênfase. Sem grande cobertura. Mesmo sabendo que aquele buraco não deveria estar lá. Afinal, pagamos impostos para isso.
Sem abordar o perfil econômico das vítimas, que já foi alvo de algumas críticas, acredito que o mais evidente nesses casos é a total inversão de valores que exige o bom jornalismo. O que é realmente importante para a sociedade é tratado como nota fria, em detrimento da busca pela audiência, mesmo que esta venha ao preço de sangue derramado.
Susana Santos
Estudante de Jornalismo
Ribeirão Preto/SP
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