sábado, 30 de novembro de 2013

Mídia, quem matou Joaquim?

          Que a mídia cobre casos de polícia não é novidade nenhuma. Inclusive a novidade seria se ela não cobrisse um escândalo como esse. Mesmo com todas as investigações, provas e depoimentos, a polícia ainda não chegou ao veredicto.

          No entanto, a mídia sim – pergunte para ela quem matou Joaquim e ela lhe responderá. De uma forma sutil e bem insinuante, a mídia regional cobriu o caso já colocando em pauta os nomes do padrasto e da mãe, não que sejam intocáveis, mas, antes mesmo da perícia ser concluída. os jornais já traziam manchetes da suspeita, quase que uma culpa, da mãe e do padrasto do garoto.

          É difícil analisar a cobertura sem lembrar do sensacionalismo de noticiar as novidades do caso quase que sempre na porta da residência do menino morto, mostrando a comoção teatral da população que se indigna e acusa. Nessa hora, não paramos pra pensar na distância saudável que é necessário ter ao cobrir um caso delicado como esse, sem incitar as pessoas em polvorosas nas ruas, aflitas por noticias do caso e repetindo a palavra justiça sem ao menos se preocupar com seu significado.

          Coisa com que a cobertura regional nem se preocupou. Saiu às pressas encaminhando suas suspeitas para as grandes emissoras, que colocam “fogo” em rede nacional, o que trouxe peso para o caso. Interessante é ver como as boas notícias são anuladas pelas más notícias, afinal, durante esse caso, ainda não solucionado, de que adiantaria falar de benfeitorias antes de dizer a data do julgamento ou do novo depoimento sobre o caso Joaquim.

          Dá até a impressão de que a mídia regional tem não só as respostas pra todo o caso Joaquim, mas sim para todos os outros que já foram manchete. É incrível como os jornais são capazes de instigar a população a agir e ir até buscar ideais que nem sabem se de fato são dela. Essa “comoção” geral do caso e essa acusação certeira antes do julgamento final para com o padrasto e a mãe do menino nos levam a uma antiga questão, a manipulação, o poder, a indução que a mídia tem sobre as pessoas. Facilmente hoje se cria o herói e o bandido, dificilmente se recria a cena do crime, fazendo com que esqueçamos de que todos são inocentes até que provem o contrário. Isso não existe. A frase agora é: você é culpado até que prove o contrário. 

          Essa obsessão, pressão da mídia por casos tão trágicos, faz com que os repórteres pareçam urubus que rondam vinte e quatro horas atrás de uma carniça para alimentar uma população doente, carente de justiça e resultado, aproveitando a deixa das tragédias para fazerem-nas durarem mais e condenar de vez um culpado, ao invés de ensinar a população a pensar e a chegar as suas próprias conclusões. E apelando para o sensacionalismo, que é de fato o que faz os pontos da audiência subirem.

Marcela Garrido
Estudante de Jornalismo
Ribeirão Preto/SP

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