A banalização da violência (seja contra idosos, crianças ou o cidadão comum) tornou-se tão corriqueira nos veículos de comunicação que as tragédias acabam se transformando em um verdadeiro espetáculo.
Não é difícil encontrar, nas páginas de jornais, matérias televisivas, notícias na rádio ou notas na internet, assuntos diretamente relacionados a crimes bárbaros. Esse é o caso da morte do menino Joaquim. A criança, de apenas três anos de idade desapareceu, no dia 5 de novembro, de dentro da sua própria casa em Ribeirão Preto. As suspeitas logo recaíram sob a mãe e o padrasto do menino, uma vez que a casa não apresentava sinais de roubo ou arrombamento.
Para agravar ainda mais a situação, o histórico de envolvimento do padrasto com o uso de entorpecentes fez com que a maioria dos veículos midiáticos o apontasse como culpado (mesmo sem o devido término das investigações). Com o desenrolar dos dias, o corpo do menino foi encontrado num rio em Barretos – cidade localizada a cerca de 110 quilômetros de sua cidade de origem. Vale lembrar ainda que um cão farejador da polícia apontou, desde o início das investigações, que o menino esteve nas mediações do rio e este é um dos principais fatos utilizados para desvendar o caso.
Não diminuindo a gravidade da fatalidade ocorrida, o que se viu foi o fervor com que a população recebeu essa notícia. Programas policiais das principais redes abertas do Brasil (SBT, Bandeirantes e Record) destinaram uma quantidade de horas significativas com o caso, valendo-se de links diretos, narrativas reconstituindo o crime e entrevistas com familiares da vítima e populares repetidas exaustivamente. Talvez esse seja o fator principal para que a morte do menino tomasse a forma de um espetáculo.
Diversas pessoas deixaram-se tomar por um sentimento tão acalorado que o resultado foi a invasão da delegacia de polícia por dezenas de pessoas interessadas em fazer justiça com as próprias mãos. Não satisfeitos com o desrespeito às autoridades policiais, foi necessário utilizar a cavalaria da Polícia Militar para conter a população e viabilizar a reconstituição do crime. Essas atitudes tão extremas adotadas pela população podem ter uma explicação racional (o cansaço mediante aos crimes hediondos sem uma punição severa da lei) ou inconsciente (a repetição incessante do acontecido na mídia inflama os populares a um desejo justiça, que talvez seja cumprido pela justiça). No entanto, por mais absurda que seja a situação, nada justifica a adoção de posturas que remetem aos tempos do Código de Hamurabi, em que existia o princípio da Lei de Talião, cuja máxima pautava-se no “olho por olho, dente por dente”.
Por fim, é importante demonstrar a importância que as coberturas jornalísticas têm em casos como o da morte do menino Joaquim. No entanto, a massificação exaustiva desse tipo de informação pode banalizar, de uma tal forma, os acontecimentos, que a cobrança por punições severas acaba perdendo espaço para o espetáculo montado em cima do ocorrido.
Giovani Mendonça
Estudante de Jornalismo
Ribeirão Preto/SP
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