sexta-feira, 31 de maio de 2013

O corriqueiro não é notícia. Ou não deveria ser.

          As TVs regionais de Ribeirão Preto dão muita atenção a ocorrências corriqueiras, como apreensão pequena de drogas, briga de vizinhos, colisões no trânsito com vítimas leves. Enfim, acontecimentos de todo dia, sem grandes novidades.
         
          Cobrir o factual é uma coisa. Agora, transformar em notícia só porque é mais fácil, mais rápido e não demanda produção é outra. Veicular boas reportagens dá trabalho, e nem sempre há estrutura para isso. Aliás, quase sempre não há. Então, opta-se pelo caminho da obviedade. O factual não exige pensar, imaginar. As reportagens não precisam ser elaboradas, com edição primorosa e imagens de tirar o fôlego. Parece que a regra é a do “vale qualquer coisa”.
         
          Outro problema é que, diferente do que pensam os chefes, a população tem ficado cansada da mesmice, dos mesmos crimes, das mesmas punições, de um cenário que só aponta os fatos, mas não se discutem as soluções. A violência vem sendo tratada com maniqueísmo na televisão, como se fosse apenas um assunto que envolve o bem contra o mal. Não se fala sobre sua conjuntura, possíveis causas, que vencê-la é uma questão de mudança de postura de toda uma sociedade.
        
          Chama a atenção também como os apresentadores valorizam, de forma exacerbada, a atuação policial. Como se a repressão fosse a única alternativa para combater o tráfico, os roubos, os embriagados do trânsito.
         
          Quem dera se fosse simples assim. E se as receitinhas dadas pelos Datenas e Marcelos Resendes da vida trouxessem, embutidas, a mágica para conter a violência. A história de que “bandido é mau e precisa ir pra cadeia” já não faz mais sentido. É urgente uma ampla reflexão sobre a questão. Manter o reducionismo serve, apenas, para que os interesses que regem a televisão – e a parceria com a polícia, em que os elogios ajudam a selar a cordialidade e garantir alguns eventuais furos – não sofram abalos desnecessários. 
 
Igor Savenhago
Jornalista e professor universitário
Ribeirão Preto e Pontal/SP

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