sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Observar a imprensa regional

          Em abril de 2010, comecei, com os alunos do Centro Universitário Barão de Mauá, onde dou aulas, este projeto de observação da mídia regional. Eles deveriam ficar atentos à atuação de emissoras de televisão, rádio, jornais e sites de notícias da nossa região e tecer breves comentários sobre o que achavam, com base nos aspectos teóricos sobre Jornalismo discutidos em sala de aula. Nasceu o Vigilantes da Notícia.

           Menos de três anos depois, o projeto já dá resultados muito satisfatórios. Motivou uma participação minha, no último dia 5 de dezembro, ao lado de consagrados pesquisadores de jornalismo regional (Rosental Alves, brasileiro que leciona na Universidade do Texas, e a espanhola Elvira Torres), de um debate sobre mídia regional e local na Universidade do Porto, em Portugal. Entrei por vídeo-conferência, falando sobre o panorama da imprensa praticada no interior do nosso país.

          Um dos desafios do evento, intitulado Jornadas de Ciberjornalismo de Proximidade, é refletir sobre como aumentar a qualidade de veículos locais/regionais diante das transformações vividas na comunicação nos últimos anos, principalmente como o advento da internet. Esse foi um dos pontos que me impulsionaram, no ano passado, a organizar e lançar, com a colaboração de 15 amigos pesquisadores e jornalistas, um livro, “Jornalismo Regional: estratégias de sobrevivência em meio às transformações da imprensa”, para discutir questões pertinentes a essa esfera da comunicação.

          As mídias regionais têm tomado um papel fundamental, já que estão próximas de suas comunidades, falando sobre os problemas urbanos diretamente para elas e com a participação delas. No entanto, ainda comete pecados, como uma forte aproximação com os poderes políticos, o que limita a liberdade de cobertura. O convite a discussões abertas tem sido um dos caminhos encontrados para que os próprios jornais, sites, rádios e TVs repensem seu papel como ferramenta na busca da cidadania.

          A construção de uma imprensa participativa depende, sobretudo, de uma educação de qualidade, de estimular a leitura nas escolas. Isso, no entanto, não é do interesse de muitos governos. Manter uma população que não questiona, acrítica, é conveniente, para que decisões políticas duvidosas sejam implantadas com mais facilidade. Por isso, a promiscuidade que impera em vários rincões do país, que coloca lado a lado governos e imprensa, é perigosa. Os veículos de comunicação existem para fiscalizar, exigir os direitos do povo e que o dinheiro público seja aplicado em prol de benefícios sociais. Demandas que, ultimamente, têm sido opostas aos interesses da política nacional.

          A valorização da imprensa local/regional é uma das chaves para o desenvolvimento de um país. Que ela continue sendo posta nas rodas de reflexão, nas mesas redondas, em blogs ou eventos universitários, visando, sempre, a ética e os temas de interesse público.

Igor Savenhago
Jornalista e professor universitário
Ribeirão Preto e Pontal/SP

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