Caríssimo Pedro Bial
Nesta última quinta-feira, dia 5 de julho de 2012, sentei-me, confortavelmente, no sofá da sala para ver a estreia do seu programa, o “Na Moral”. Mas confesso que meu sossego durou pouco. Só até o momento em que você pôs a cara na telinha, quando fui, num repente, alçado para fora da zona de conforto. Reconheço o seu esforço em tentar fazer as pessoas pensarem. A iniciativa é louvável, mas, ao mesmo tempo, sofrível, já que fazer pensar não tem sido o forte da emissora em que trabalha, a TV Globo, focada no entretenimento aliado ao sucesso comercial. Isso costuma aparecer nas emissoras afiliadas, pelo interior paulista, e acabou dando o ar da graça também em seu programa.
Primeiro, não consegui entender a presença de uma plateia, que, certamente, teria boas opiniões sobre o assunto, mas não foi ouvida, em hora alguma. Em segundo lugar, a edição peca, por não deixar os temas aprofundarem. Quando a discussão começa a pegar fogo, o convidado é interrompido. E um terceiro ponto a ser destacado é que, se o programa é um debate de ideias e conceitos, porque a palavra final é sua? Por que a verdade derradeira está com você?
Palavra e verdades, que, aliás, foram dois termos abordados no programa, mas de forma isolada, jogada, sem reflexão que mereça crédito. Como entender o apanhado final, o fechamento do “Na Moral”, quando você diz que as únicas palavras que foram capazes de mudar o mundo foram “Preparar, apontar, fogo?”. Com que critérios você disse isso? Os do politicamente correto? Ou do incorreto?
E de que mundo você fala? Se fala do mundo com um todo, como sinônimo de Planeta Terra, você desconsidera os pequenos mundos, os dos seus telespectadores. Mundos cotidianos, em que convivem aqueles que se sentam à TV numa quinta-feira à noite para testemunhar sua própria tentativa, Bial, de mundar o mundo. Sim, pois se faz um programa de televisão, com tanta gente vendo, é porque tem a intenção de promover mudanças sociais, estimulando alterações no jeito de pensar. Ou não? Está interessado apenas em parecer um bom funcionário, politicamente correto, jogando as regras da casa?
Se não for isso, se realmente você deseja promover mudanças – e isso significa mudar o mundo, ou mundos, mesmo que sejam pequenos, cotidianos – como você acha que se faz isso? Como você acha que pode intervir, provocar reflexões, a não ser pela palavra? Cristo e Buda mudaram o mundo pela palavra. Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Hitler e o Papa João Paulo II também. Se não acredita que a palavra tem poder, não acredita no seu próprio programa, certo? O “Na Moral” é palavra, acima de tudo. Cenário simples, montado num pequeno estúdio, sem atrativos cenográficos. Se a força não estiver na palavra, ficamos sem saber onde está o objetivo do programa.
Tentei entender quando você absolve o Alexandre Pires pela música que faz referência ao “pelo do macaco”. Mas fiquei com uma pulga atrás da orelha quando você, ao dizer que o filósofo Luiz Carlos Queiroz condena o uso de determinadas expressões, também se mostra autoritário e condena a cartilha que ele escreveu.
Ponto pra você quando o programa debate se é preciso criar leis para definir tudo o que pode ser certo ou errado numa sociedade. A própria sociedade define, no jogo das relações sócio-históricas o que aceitável e o que não é. Tanto que algo aceito socialmente hoje como correto pode não ser aceito amanhã. Temas que viram motivo de piada hoje podem se tornar insuportáveis amanhã, porque fatias sociais ridicularizadas no passado não aceitam mais tal condição. Portanto, caro Bial, as mudanças sociais aparecem nas palavras e vice-versa. Por isso, assumem sentidos diversos dependendo de quem as utilizam e em que épocas são ditas ou escritas. E, por isso também, ela é uma ferramenta e tanto para mudar o mundo, seja de qual mundo estamos falando.
Para uma mudança profunda, porém, é necessário uma reflexão profunda. A do seu programa foi rasa. E, redeglobalmente falando, não acredito que a mudança, pelo menos por ora, seja grande. Pelos interesses envolvidos. Gente que pensa não faz bem à TV comercial, de uma forma geral, porque podem representar queda na audiência.
O seu mérito está em suscitar o embate. Tanto que o seu programa continua a ser discutido, mesmo fora da telinha, como neste texto. Pela força da palavra.
Mas, se você ainda acredita que as únicas palavras capazes de mudar o mundo são “Preparar, apontar, fogo”, prepare-se para uma guerra ideológica. Que já começou.
E é bom não reclamar. Foi você quem provocou. Se a intenção era só essa, conseguiu o que queria. Se não, sugiro repensarmos o mundo em conjunto, e não com uma verdade única, ao final de cada programa.
Nesta última quinta-feira, dia 5 de julho de 2012, sentei-me, confortavelmente, no sofá da sala para ver a estreia do seu programa, o “Na Moral”. Mas confesso que meu sossego durou pouco. Só até o momento em que você pôs a cara na telinha, quando fui, num repente, alçado para fora da zona de conforto. Reconheço o seu esforço em tentar fazer as pessoas pensarem. A iniciativa é louvável, mas, ao mesmo tempo, sofrível, já que fazer pensar não tem sido o forte da emissora em que trabalha, a TV Globo, focada no entretenimento aliado ao sucesso comercial. Isso costuma aparecer nas emissoras afiliadas, pelo interior paulista, e acabou dando o ar da graça também em seu programa.
Primeiro, não consegui entender a presença de uma plateia, que, certamente, teria boas opiniões sobre o assunto, mas não foi ouvida, em hora alguma. Em segundo lugar, a edição peca, por não deixar os temas aprofundarem. Quando a discussão começa a pegar fogo, o convidado é interrompido. E um terceiro ponto a ser destacado é que, se o programa é um debate de ideias e conceitos, porque a palavra final é sua? Por que a verdade derradeira está com você?
Palavra e verdades, que, aliás, foram dois termos abordados no programa, mas de forma isolada, jogada, sem reflexão que mereça crédito. Como entender o apanhado final, o fechamento do “Na Moral”, quando você diz que as únicas palavras que foram capazes de mudar o mundo foram “Preparar, apontar, fogo?”. Com que critérios você disse isso? Os do politicamente correto? Ou do incorreto?
E de que mundo você fala? Se fala do mundo com um todo, como sinônimo de Planeta Terra, você desconsidera os pequenos mundos, os dos seus telespectadores. Mundos cotidianos, em que convivem aqueles que se sentam à TV numa quinta-feira à noite para testemunhar sua própria tentativa, Bial, de mundar o mundo. Sim, pois se faz um programa de televisão, com tanta gente vendo, é porque tem a intenção de promover mudanças sociais, estimulando alterações no jeito de pensar. Ou não? Está interessado apenas em parecer um bom funcionário, politicamente correto, jogando as regras da casa?
Se não for isso, se realmente você deseja promover mudanças – e isso significa mudar o mundo, ou mundos, mesmo que sejam pequenos, cotidianos – como você acha que se faz isso? Como você acha que pode intervir, provocar reflexões, a não ser pela palavra? Cristo e Buda mudaram o mundo pela palavra. Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Hitler e o Papa João Paulo II também. Se não acredita que a palavra tem poder, não acredita no seu próprio programa, certo? O “Na Moral” é palavra, acima de tudo. Cenário simples, montado num pequeno estúdio, sem atrativos cenográficos. Se a força não estiver na palavra, ficamos sem saber onde está o objetivo do programa.
Tentei entender quando você absolve o Alexandre Pires pela música que faz referência ao “pelo do macaco”. Mas fiquei com uma pulga atrás da orelha quando você, ao dizer que o filósofo Luiz Carlos Queiroz condena o uso de determinadas expressões, também se mostra autoritário e condena a cartilha que ele escreveu.
Ponto pra você quando o programa debate se é preciso criar leis para definir tudo o que pode ser certo ou errado numa sociedade. A própria sociedade define, no jogo das relações sócio-históricas o que aceitável e o que não é. Tanto que algo aceito socialmente hoje como correto pode não ser aceito amanhã. Temas que viram motivo de piada hoje podem se tornar insuportáveis amanhã, porque fatias sociais ridicularizadas no passado não aceitam mais tal condição. Portanto, caro Bial, as mudanças sociais aparecem nas palavras e vice-versa. Por isso, assumem sentidos diversos dependendo de quem as utilizam e em que épocas são ditas ou escritas. E, por isso também, ela é uma ferramenta e tanto para mudar o mundo, seja de qual mundo estamos falando.
Para uma mudança profunda, porém, é necessário uma reflexão profunda. A do seu programa foi rasa. E, redeglobalmente falando, não acredito que a mudança, pelo menos por ora, seja grande. Pelos interesses envolvidos. Gente que pensa não faz bem à TV comercial, de uma forma geral, porque podem representar queda na audiência.
O seu mérito está em suscitar o embate. Tanto que o seu programa continua a ser discutido, mesmo fora da telinha, como neste texto. Pela força da palavra.
Mas, se você ainda acredita que as únicas palavras capazes de mudar o mundo são “Preparar, apontar, fogo”, prepare-se para uma guerra ideológica. Que já começou.
E é bom não reclamar. Foi você quem provocou. Se a intenção era só essa, conseguiu o que queria. Se não, sugiro repensarmos o mundo em conjunto, e não com uma verdade única, ao final de cada programa.
Igor Savenhago
Jornalista e professor universitário
Ribeirão Preto e Pontal/SP
Jornalista e professor universitário
Ribeirão Preto e Pontal/SP
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