domingo, 4 de maio de 2014

Esperança e iniciativa




          Voltar ao Rio de Janeiro, três anos depois da tragédia de Realengo, foi mais uma experiência única. Dessa vez, não foi para ouvir testemunhas, consolidar fatos, buscar informações e escrever sobre o assunto. Foi um dever cumprido, uma satisfação sem igual. Ao ser recebida por Adriana da Silveira, mãe de Luiza Machado, que, aos 14 anos, morrera durante a massacre, pude sentir sua alegria e gratidão. O livro “Violência na Escola” foi uma contribuição e uma esperança de comoção e iniciativa tanto para os leitores, quanto para pais, professores e alunos. Acho que o dever de um jornalista, um escritor, não é apenas reportar um fato, uma tragédia. É preciso mais: se perturbar, se colocar no lugar do outro, assim como na nossa vida, e buscar exercer sempre o pensamento “de que maneira estou contribuindo para interferir, mudar essa realidade social”?

         Vivemos num mundo em que o tempo controla nossa rotina, e é normal deixarmos de refletir sobre muitas coisas, mas não deveríamos. Possuo um belo exemplo. Mesmo em um momento difícil e de perda, a mãe de Luiza pensou em como poderia contribuir para que tragédias como a da escola Tasso da Silveira não voltasse a acontecer. Em vez de deixar se levar pelo sofrimento, resolveu montar uma associação, que pudesse agir nas escolas, transmitindo exemplos de paz. Essa associação, com nome “Anjos de Realengo”, foi montada com o intuito de ajudar as escolas não só do Rio, mas de todo o estado, a estudar valores, família e, principalmente, a convivência, em que o bullying, por sua vez, também é discutido.

          Iniciativas como estas é o que falta nesse país, que valoriza bem mais o futebol do que a própria educação. Me desculpem, sei que essa é uma frase que muitos mencionam, mas não é a verdade? Faltam, sim, e muitos, projetos que ajudem as escolas, a começar com qualificação e reciclagem do próprio professor. Afinal, as salas de aula não são mais as mesmas, as crianças e adolescentes também não, cada época tem sua referência e aspectos diferenciados. E a mudança segue alinhada. Portanto, a forma como se dá aula também deverá ser aprimorada.

          Não podemos aplicar a educação de uma década atrás, neste tempo muita coisa mudou. Mas o que não mudou ainda é a forma como nossa educação é estabelecida neste país. Discutir valores atualmente nunca foi tão importante nesta época dos descartáveis, da falta da união familiar e, sobretudo, do aumento de uso de drogas. Precisamos olhar para o que está em defasagem. Um indivíduo que conhece bem os valores morais sabe lidar melhor com o outro, aprende na mesma proporção, pois sua mente é voltada para pensar e questionar. E, claro, esses alunos também identificarão uma mente doente, como a do Wellington Menezes, e poderão ajudá-la, em vez de incentivarem a violência.

          É nas escolas que acontece o primeiro processo de aprendizado como cidadão. Dá para entender nossa parcela de culpa? Temos, sim, o dever de ajudar essas instituições, mas ninguém para pra refletir que são seus filhos que estão lá dentro e que sairão para enfrentar o futuro afora. A pergunta é: será que, da forma como olhamos e ajudamos a estabelecer a educação, eles estarão preparados?

Sâmara Azevedo
Jornalista
Ribeirão Preto/SP

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