domingo, 12 de agosto de 2012

Alfabetização jornalística e saúde democrática na era da informação

          Mais um trecho do livro "Jornalismo Regional: estratégias de sobrevivência em meio às transformações da imprensa", organizado pelo jornalista e professor universitário Igor Savenhago. Desta vez, parte do capítulo Alfabetização Jornalística e Saúde Democrática na Era da Informação, escrito pelos jornalistas Paulo Carlim e Daniela Fernanda Teixeira.
         
          Comparado aos mais duros tempos de ditadura militar, no século passado, o Brasil vive hoje em clima de liberdade de imprensa, mas enfrenta ainda problemas que embaraçam esse clima, como a falta de uma legislação que efetivamente proteja fontes de informação que apareçam como testemunhas em crimes de corrupção. Também representam perigo questões como a insistência da mídia em dar conotação sensacionalista a eventos de violência e ainda a denominada censura judicial, que induz ao erro de que uma autoridade do Poder Judiciário possa dizer de antemão o que um jornal deve ou não informar.

          Complementarmente a este cenário, tem-se a absoluta falta de capacidade de boa parte dos cidadãos de discernir entre notícia confiável e informações suspeitas, e quem sabe esta incapacidade seja exatamente o principal risco à democracia nesta Era da Informação.

          Iniciemos pelo tema da censura judicial: em 2010, uma série de publicações locais e pequenos blogs, e até mesmo o tradicional Estadão, foram impedidos judicialmente de prosseguir em temas sem dúvida de grande relevância para a opinião pública, como a denominada “Operação Barrica”, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando, filho do presidente do Senado José Sarney. Ao mesmo tempo, grupos políticos ligados a governos aprovaram em congressos diretrizes claramente voltadas para a criação de normas de controle contrárias à livre circulação de ideias e de informações.

          Se é certo que o cenário da liberdade de expressão no Brasil melhorou e as “regras do jogo” são mais transparentes, também persiste a ameaça silenciosa de que, em vez de interpretarem a letra da lei e garantirem a liberdade de imprensa, juízes deixem a condição de árbitros para assumir o papel de instrumentos de censura. A judicialização da censura seria certamente uma das principais ameaças do ambiente social brasileiro neste momento, servindo exclusivamente aos interesses de partidos políticos que têm aversão ao livre debate. Em países vizinhos, a situação chega a ser ainda mais incerta, com ações sistemáticas de governos que buscam atacar o que consideram conglomerados de mídia.

         Outro ponto que gera preocupação é o significativo crescimento das verbas públicas em publicidade comercial nos veículos jornalísticos, mecanismo que, muitas vezes, permite ao poder público abastecer quase a totalidade do caixa de algumas publicações mais frágeis, como pequenos jornais ou programas de rádio. Criada a dependência entre o veículo jornalístico e a verba oficial, produz-se um ambiente, se não de cooptação direta, ao menos de constrangimento, e a independência editorial sai prejudicada.

          Em ambos os casos – o risco de censura prévia e a dependência econômica –, a vítima é o cidadão em seu direito de ser corretamente informado sobre a realidade de seu país. Mais que atentados à livre imprensa, são atentados ao povo, de quem é subtraída a informação.

          Defensores autênticos da legítima liberdade de imprensa proclamam a ideia de que o direito à liberdade de informar é, antes, um dever de ofício. De outro lado, conforme procuraremos demonstrar neste capítulo, o jornalista não está isento de responsabilidades intrínsecas ao exercício profissional e suas complexas relações interpessoais e institucionais. Deve, primordialmente, agir de modo ético com suas fontes e veículos para os quais reporte sua visão dos fatos, evitar o sensacionalismo e respeitar a soberania do Estado em suas decisões.

          Além disso, o profissional pode também fazer mais, ofertando seu talento a serviço da qualificação dos recursos humanos brasileiros por intermédio do que Cunningham & Miller (2010) denominaram “alfabetização jornalística” das novas gerações: ensinar os valores do bom jornalismo mesmo àqueles que não pretendam seguir a carreira de comunicadores, pelo simples fato de proporcionar que se tornem melhores cidadãos, capazes de criar um Brasil mais livre e democrático para as gerações seguintes.

Paulo Carlim
Jornalista em Piracicaba/SP

Daniela Fernanda Teixeira
Jornalista em Ribeirão Preto/SP

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