Fonte da imagem: UOL
O escritor, historiador e jornalista gaúcho Eduardo Bueno, o Peninha, brinca que “jornalista não gosta de que coisas aconteçam, senão ele vai ter que trabalhar”. Claro que é uma brincadeira. Ele mesmo foi um dos que já correram muito para dar uma matéria, e duvido que tenha ficado mal-humorado por isso.
O fato é que a imprensa em Ribeirão Preto tem motivos para não ficar parada em 2016. Já teve tocha, assalto milionário e agora, desde o dia 1º de setembro, uma operação da Polícia Federal. Esta operação, a Sevandija, serve e muito para matar a sede diária que estes profissionais sentem ao abrir o jornal e ver PFs, a mando de Sérgio Moro, na porta da casa dos políticos e empreiteiros mais importantes da Pátria Amada.
É vereador, é prefeita, é empresário. Tudo acusado. Isso faz com que a correria seja intensa. Tem que ouvir promotor, delegado. Vem jornalista de fora. Vai jornalista para fora. Os políticos viraram os grandes vilões (E são. Independente de crime cometido ou não, quem se presta a esse serviço não tem boa intenção). Mas ser vilão não significa ser criminoso comprovado, julgado e preso. Só ser ruim, em todos os aspectos morais.
A imprensa, induzida pela promotoria, já cometeu alguns excessos nesta semana desde a deflagração da operação.
1º) Notícia atravessada – Desde o início, na ânsia de dar a informação primeiro, alguns princípios básicos foram quebrados. Notícia incompleta, falsa ou sem direito a resposta. Como os casos dos vereadores que, de acordo com a promotoria, teriam tido seus mandatos suspensos – como foi dito na própria coletiva de balanço da operação. Na realidade, eles tiveram as funções públicas suspensas, ou seja, não podem frequentar prédios públicos, por exemplo. Caso o mandato estivesse suspenso, eles deixariam de receber salários e os gabinetes seriam lacrados até o término das investigações, o que não ocorreu. Mesmo eles não frequentando a Câmara, seus assessores estão. Além disso, não foram poucas as oportunidades que a defesa sequer teve a oportunidade de se pronunciar.
Outro exemplo são as tais conduções coercitivas. De acordo com a promotoria, foram nove conduções para vereadores. Na legislação, condução coercitiva é “Da inteligência do artigo 260 do CPP, se o acusado ou investigado ‘não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença’”.
Trata-se o presente instituto da possibilidade de o delegado de polícia ou juiz de direito se fazer valer da força necessária e não abusiva para que o investigado seja conduzido à presença da autoridade, a fim de suprir seu eventual descaso com o Estado na busca pela efetiva persecutio criminis, para realização de um ato relevante, seja durante as investigações em sede de inquérito policial, seja no decurso do processo penal”.
Ou seja: meter o cara no camburão e ponto. Situação que de fato não ocorreu em todas as situações. Alguns vereadores chegaram ao local no próprio carro depois da notificação. Outros demoraram cinco dias para comparecer na sede da PF, com alegação de que estava viajando para a “longínqua São Paulo”.
2º Bundinha na tela – Nestes dias, os jornalistas viraram verdadeiros cangaceiros. Estão montando no jumento e desembainhando o facão para degolar aqueles que tiraram vaga de criança na creche ou roubaram a mistura da merenda. Nos noticiários e programas de entretenimento jornalístico, os apresentadores estão botando mais os dedos na câmera, estão falando mais alto e informando mais que o dinheiro roubado é o dinheiro do POLVO. As apresentadoras gostosinhas estão empinando mais a bunda e rebolando com incisão. O sonho dos adolescentes adoradores de MILF’S. Calça de veludo, bundinha de fora, diria o outro.
Agora todo mundo é David Frost, Will McAvoy e Boris Casoy. Não precisa de julgamento. Pra que a papelada, dias e dias de tribunal, anos e anos de processo rolando? Pra que Sérgio Moro? Se o simples fato da promotoria ter dito já incrimina todas as pessoas envolvidas? Afinal, pessoa pública é igual bandido, não é? Não precisa de julgamento. Que me diga o Neymar, que de ídolo virou capeta por meia dúzia de jogos atuando mal.
Até um simples áudio da prefeita reclamando de um acordo com um vereador da base que não foi cumprido já virou motivo de indignação pública. Aí BESSIAS! Se a PRESIDANTA Dilma Rousseff tivesse feito isso não teria virado comida de rato.
Comparação essa com a situação da política nacional, que não fica na brincadeira deste reles escrevinhador, e que foi feita até mesmo por um jornal. Que teve a pachorra de ir até uma cidade vizinha procurar uma fazenda de um dos investigados pela Sevandija, apenas com o registro de CNPJ em mãos, e deduzir, após algumas entrevistas com vizinhos, que o local também seria utilizado pela prefeita. Repito, sem nenhum documento em mãos, além do registro do proprietário e conversa com os vizinhos. Lembra muito um tal sítio em Atibaia, que, de acordo com o prefeito do Rio, é igual “a merda de Maricá”. Pergunta: Cajuru é uma merda também?
3º O maior espetáculo da Terra - Alguns veículos de comunicação tiveram acesso ao material investigado pela PF. Nenhum problema. Mérito para quem conseguiu. Isso é fruto de muito trabalho. Porém, ficar soltando em pílulas ao longo da semana é, no mínimo, brincar com a situação, apenas para segurar audiência. Solta tudo. Tem site, tem outros meios de comunicação. Não precisa fazer mistério. Todo o interesse jornalístico demonstrado nas situações citadas acima evapora, e fica nítido o interesse de audiência.
Conclui-se que o tempo está comendo os jornalistas. Internet é bom, desde que seja a cobertura in loco dos acontecimentos, e não a única. A velha e boa análise de tudo com o lado de todos é necessária ainda. A informação é de todos, portanto é algo valioso. Jornalista não é juiz, muito menos assessor de imprensa do Gaeco. Jornalista é jornalista.
Equipe Vigilantes da Notícia