Na indústria do jornalismo, notícia funciona como produto. Como na moda, em que um lançamento fica velho em pouco tempo e surge outro para conquistar os bolsos das madames de plantão, é preciso que a notícia também tenha rotatividade, para sustentar as finanças dos veículos. Vendagem e audiência estão baseadas na capacidade de uma emissora de TV ou um jornal divulgar fatos fresquinhos, com cheiro de novo, nem que seja necessário dar uma requentada. Como um arroz de ontem, em que se põem fatias de queijo, pedaços de linguiça e que vai para o forno. Não é, obrigatoriamente, um novo prato, mas tem cara de novo para um visitante desavisado, por exemplo.
A busca incessante pela novidade faz com que os veículos simplesmente se esqueçam de assuntos importantes e que mereçam destaque. Parece que atualizar fatos, voltar a algumas abordagens feitas para dizer qual a conclusão de uma perícia ou se a prefeitura realmente foi ver um problema no bairro, conforme prometido, é gastar cartucho à toa. A TV ou o jornal informam que as causas do acidente serão apuradas, mas, depois, o telespectador ou leitor não é informado.
As boas escolas de jornalismo recomendam que se continue num caso até que ele tenha solução, em respeito ao público. A palavra de ordem é continuidade. Que se cobrem respostas dos poderes constituídos. E que não se deixe quem recebe a informação com aquela sensação de que os produtores da comunicação estejam interessados apenas no imediatismo. Da notícia e do lucro.
E já que o tema é continuidade... continuo a comparação com o arroz de ontem. É melhor requentá-lo do que jogá-lo fora.
Igor Savenhago
Jornalista e professor universitário
Ribeirão Preto e Pontal/SP
Jornalista e professor universitário
Ribeirão Preto e Pontal/SP
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