sexta-feira, 15 de junho de 2012

O preço da barbárie

          Nos últimos dias, foi inevitável não ver na TV o fato ocorrido com um empresário milionário, dono da Yoki, que foi brutalmente assassinado e esquartejado. Noticia que, apesar da atual banalidade da violência, ainda nos choca. Mas pensando bem: por que nos toca tanto este tipo de crime?

          Num dia posterior, de saber de tal notícia, também vi num telejornal, numa breve “notinha”, que haviam achado o corpo de uma mulher esquartejada em um saco plástico jogado na periferia de uma cidade do interior de São Paulo. Tal crime passou despercebido pela mídia, diferentemente do caso do empresário. E será que foi somente para a mídia que isso passou como apenas mais um crime, ou para o público também? Quando uma barbárie desta acontece com um grande magnata, a TV levanta uma porção de questionamentos em relação à criminalidade e à violência. Faz uma reportagem muito bonita, com pensamentos filosóficos e tudo mais. Mas quando acontece com um pobretão da periferia, isso não passa de uma notinha muito breve.

          O empresário, assim como a mulher, tinha família, pessoas preocupadas com ele, planos para o futuro e gozava da vida, cada um a sua maneira. Mas por que fazemos tanta diferença, ou nos chocamos muito mais com a violência a alto custo?

          A grande questão é que, ao assistirmos a noticia do assassinato pobre, damos um jeitinho em nossa consciência, e imediatamente pensamos: devia estar devendo dinheiro de droga ou “caguetou” alguém?

          Quem também não se lembra do caso de Isabela Nardoni, que chocou o Brasil inteiro, com a grande probabilidade de ter sido assassinada pelo pai e pela madrasta? Na mesma semana, tivemos a infeliz noticia de duas crianças que foram esquartejadas pelos pais e colocadas dentro de sacos plásticos. Alguém se lembra?

          Claro que o fato de Isabela não deixa de ser menos chocante, mas precisamos refletir um pouco quais as razões que nos levam a nos emocionar com certos crimes. Será pela gravidade do caso, pela frieza com que pais fazem isso com seus próprios filhos, ou pelo simples fato de pensarmos que pessoas que fazem isso são da mesma espécie que a gente? Pensar que são seres humanos, que se transformaram em animais. Apesar que seria ofender pobres animais que não possuem tal monstruosidade no coração e na mente.

          Discutir as razões que levam as pessoas a fazer isso seria relevante, mas ficaríamos horas a fio neste assunto.

          De repente, poderíamos dar um primeiro passo, pensando em nossas próprias razões. O porquê fatos como o da mulher pobre do saco plástico, ou dos meninos espedaçados pelos pais, fogem de nossa memória tão facilmente?

          Pensaríamos que seria por culpa da mídia, que enfatizou muito mais os outros crimes, mas desta forma também nos isentaríamos de sentimentos que temos dentro de nós, e que, se conhecermos, não iríamos gostar muito.

          Quando nos deparamos com fatos deste tipo, passamos a enxergar que a barbárie também tem seu preço, e que nos compram de forma muito ilusória, nos passando a ideia de que se chorarmos pela morte de uma garotinha como Isabela, seremos seres humanos melhores. Isso não deixa de ser verdade. Mas e pelas duas crianças que foram jogadas fora como lixos? Por que será que já esquecemos?

          É de se pensar, né?

Ivan A. S. Savenhago
Psicólogo e Psicanalista
Pontal e Ribeirão Preto/SP

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