sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O pão, a feira, o circo e palhaços

          O desespero bate, vem uma agonia e finalmente dá uma vontade de desligar o televisor quando assisto os telejornais locais na hora do almoço. O estomago embrulha, penso que talvez fosse o nhoque que a nonna preparou no almoço, mas não foi isso que causou o mal-estar. Talvez o tino jornalístico me indicasse que o melhor a fazer era zapear e ter uma noção do que nossos colegas de profissão estavam fazendo.
         
          Confesso que deu uma vontade de jogar tudo pro alto e abandonar o Jornalismo. Creio que não seria uma má ideia recomeçar o curso de Química que abandonei outrora. Mas ainda sempre ficaria frustrado ao assistir os telejornais e me sentir profundamente aborrecido com o Jornalismo faz de conta que fazem nesses lados do interior paulista.

O pão que não alimenta         
          Na afiliada da maior emissora do país, um falso jornalismo comunitário toma conta da hora do almoço. Notícias insossas e matérias tiradas do congelador fazem o telejornal mais visto da região. Profissionais talentosos (me atrevi a vasculhar o currículo de alguns) tentam dar uma escapada dos olhos do Grande Irmão. Ele está lá, assistindo tudo e avaliando se algo desvia do tal padrão de qualidade que tantos copiam. Não se aprofundam em absolutamente nada. É raso. Procuro a razão do mote comunitário do jornal, talvez mostrar um buraco na rua ou ratos invadindo a casa do prezado telespectador seja um ótimo serviço à comunidade. Sei lá.

A feira
         
          Outros dizem que mostram o que realmente interessa. Essa tal ambição já seria motivo pra eu esculachar o pobre clubinho. Talvez quem estivesse assistindo esteja interessado em ver as ofertas do “Clube de Ofertas”. O descaramento é tanto que na escolha do local do link de trânsito ou tempo, curiosamente escolhem a calçada do glorioso anunciante... Nem pra colocar outra pessoa pra fazer o link da propaganda? O ideal seria cada qual no seu devido lugar: reportagem no telejornal e propaganda nos intervalos, sempre foi assim. E me pergunto: por que enganar o telespectador que está sintonizado pra assistir o Jornal? Mais respeito, por favor.

O circo
         
          Aborrecido de tanta bobagem, talvez ficasse feliz em assistir a TV mais feliz do Brasil, Ficaria, disse bem. Pois o que vejo é o verdadeiro show da vida! Como a vida é um espetáculo! Chega a ser irritante o modo que o Hussein trata as notícias. A vida dá voltas e meu estômago rodopia quando me pergunto como pode uma pessoa vender remédio pra hemorróidas em um dia e no outro apresentar um telejornal? Coisas da vida. Muitos de meus colegas de profissão talvez nunca cheguem a apresentar um boletim fora da faculdade... Afora o passado que condena a todos nós, o jornal é um exemplo que deveria ser mostrado em sala de aula e deveria ser estudado com afinco pelos pesquisadores do jornalismo: algo que não deveria ser feito, tampouco copiado, mas, infelizmente, meu desejo não vai se realizar, talvez em longo prazo, quando formarmos jornalistas com interesse em buscar a verdade e proteger o povo. É algo meio super-herói, mas devemos sim proteger nosso povo das garras dos poderosos manipuladores e não nos aproveitar das carências e tragédias que acontecem no cotidiano. Com esses princípios, a única palavra que me veio em mente quando eu assisti esse jornal-reality show foi: carniceiros.

Pão e circo... e os palhaços

          Continuei a zapear e caí naquela emissora que quer ser a primeira. Será que faria bem balançar tudo mesmo com o estômago cheio de nhoque? Analisando bem, fizeram uma cópia meia-boca do telejornal plim-plim misturado com o estilo Datenão. Água com açúcar com tempero forte não combina. E quem quer ver alguém berrando na sua sala na hora do almoço? Tem muita gente que gosta. E a velha tática romana se repete nos nossos televisores. A prestação de serviço e o espetáculo da tragédia alheia num só programa, tudo com leves balanços pra descontrair o telespectador-palhaço. Nesse circo, o palhaço de novo é o povo. Afinal, quem vive sem feira, pão e circo?
         
          A indigestão atingiu o auge, ainda bem que a dura epopeia chegou ao fim. Desliguei o televisor, e fui-me embora. Quando cheguei ao trabalho, aquele peso sumiu. Talvez o conselho da minha nonna devesse ser mudado. Talvez a porcaria faça mal tanto digerindo quanto assistindo.

Bruno Moraes Pereira da Costa
Estudante de Jornalismo
Ribeirão Preto/SP

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